quinta-feira, 26 de março de 2015

Acidentes aéreos e o suicídio de pilotos

Suspeita-se que a queda do Airbus 320 não tenha sido um acidente, mas o suicídio do co-piloto.Uma parcela pequena dos acidentes aéreos podem ser devido ao comportamento suicida dos pilotos, o que é importante porque, embora não sejam frequentes, tais casos são preveníveis.

Embora não seja possível qualquer certeza por enquanto, a notícia de que o piloto do Airbus 320 da Germanwings estava trancado do lado de fora da cabine quando o avião caiu levou o promotor responsável pelas investigações a afirmar que o co-piloto Andreas Lubitz, de 28 anos, teria derrubado a aeronave propositalmente. O áudio da caixa-preta mostra que após o piloto ter saído por alguns minutos, ficou trancado do lado de fora. Chamou por Lubitz, mas sem receber resposta tentou abrir e posteriormente arrombar a cabine enquanto o avião descia em direção às montanhas, aparentemente sem pane que justificasse a queda. O silêncio na cabine era total, o co-piloto não respondia tampouco ao chamado de terra, mas a hipótese de que ele estivesse desacordado é fraca, já que existe um mecanismo de segurança que permite ao tripulante entrar, usando um código de segurança, a não ser que seja ativamente barrado por quem está dentro. Esse parece ter sido o caso.


Ninguém gosta de falar sobre o assunto, mas a verdade é que pilotos também adoecem – podem ficar deprimidos, tornar-se dependentes químicos, e em casos extremos cometer suicídio. Às vezes, durante o trabalho. No final dos anos noventa, pesquisadores britânicos levantaram as causas de 1.000 acidentes consecutivos, entre 1956 e 1995. Dos mil acidentes, nove foram por intoxicação alcoólica dos pilotos, e três por comprovado suicídio. Em outro grande estudo, feito nos EUA, os cientistas levantaram os casos de acidentes aéreos suspeitos de suicídio entre 1983 e 2003, comparando-os com quedas verdadeiramente acidentais. Nesses vinte anos identificaram 36 casos de suicídio e um de tentativa, quase todos com aviões pequenos e sem outros passageiros. Os exames toxicológicos revelaram que em 24% dos casos havia uso de álcool e em 14% de outras drogas ilícitas. Problemas sociais estavam presentes em quase metade dos casos (46%) e questões legais em outros 40%. Comparando com outras quedas, os pilotos suicidas são mais novos, os acidentes são mais destrutivos e mais distantes do aeroporto do que os casos aleatórios. Ainda na década de 90 um estudo estimou que entre 2 e 3% de todos os acidentes aéreos (incluindo com aviões pequenos, jatos executivos etc) sejam por suicídio, atribuindo grande peso ao alcoolismo e depressão não detectados, além dos já comentados problemas familiares.

Mas um dos estudo mais polêmicos sobre o tema foi publicado em 1978 na prestigiosa revista Science. Estudando apenas vôos não comerciais, verificou-se que nos dias seguintes à divulgação midiática de casos de homicídio-suicídio, aqueles nos quais alguém mata uma ou mais pessoas antes de dar cabo da própria vida, o casos de acidentes aumentavam na proporção direta da divulgação – quanto mais publicidade o crime tivesse, maior o número de quedas de aviões. Sabendo que os comportamentos humanos são em geral contagiosos, mesmo comportamentos tão extremos com o autoextermínio, o pesquisador concluiu à época que casos de suicídio estavam sendo disfarçados como acidentes por pilotos.

É trágico, mas não é preciso criar um pânico coletivo. Sabe-se que o número de acidentes aéreos é muito pequeno diante da quantidade de passageiros transportados todos anos. E apenas uma fração ínfima (dessa já diminuta fatia) é atribuível ao suicídio de pilotos. Essa não tem que ser uma preocupação dos passageiros, mas talvez fosse interessante que as agências reguladores instituíssem algum tipo “check-up psiquiátrico” regulares nas companhias aéreas. Embora esses casos sejam poucos, são daqueles que podem ser prevenidos.

Por: Daniel Martins de Barros via Estadão

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Lista de acidentes causados por pilotos suicidas: AQUI.

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